EXPOSIÇÃO De el POEMA DEL DESCUBRIMIENTO de daniel vázquez díaz NO SECRETARIADO DA PROPAGANDA NACIONAL, lisboa (18.1.1941-5.2.1941)
A 12 de Outubro de 1930, Daniel Vázquez Díaz inaugurou oficialmente a sua pintura mural no Mosteiro de La Rábida, na sua terra natal, em Huelva, Espanha. Este conjunto de cinco painéis pintados a fresco foi concebido com o propósito de representar e enaltecer a “epopeia” da expansão marítima europeia para o continente americano, a partir do relato da estadia de Cristóvão Colombo no mosteiro em questão – a data de inauguração é simbólica, dado que no dia 12 de Outubro era festejado, em Espanha, o “Dia da Raça”, que comemora a chegada de Cristóvão Colombo à América, em 1492[1].
Dos cinco painéis que ainda hoje podem ser visitados no Mosteiro de La Rábida, o primeiro é intitulado El navegante y el monje (situado no pórtico da sala), o segundo El pensamiento del navegante (anteriormente Noches de inspiración), o terceiro Las Conferências (anteriormente Los oyentes de Colón e Intimidades del Inspirado), o quarto Los heroicos hijos de Moguer (que teria sido Marineros de Palos), e o quinto e último painél é o designado La Salida de las Naves (previamente Avante)[2].
A 12 de Outubro de 1940[3], ao comemorar-se o primeiro decénio da conclusão dos seus frescos no Mosteiro de La Rábida, Vázquez Díaz expôs, no Ministerio de Asuntos Exteriores espanhol, quase todos os esboços, desenhos e cartões que serviram de estudos prévios à execução da pintura mural, já com o seu título definitivo: El Poema del Descubrimiento. Em Dezembro do mesmo ano, o pintor viajou até Portugal na sequência do convite feito pelo governo português para celebrar uma exposição das mesmas obras no Secretariado de Propaganda Nacional, em Lisboa[4].
A exposição de El Poema del Descubrimiento foi inaugurada a 18 de Janeiro de 1941[5], em Lisboa, no estúdio do Secretariado de Propaganda Nacional, seu promotor. Na inauguração estiveram presentes, entre outros, Óscar Carmona (Chefe de Estado), António Ferro (diretor do Secretariado de Propaganda Nacional) e Mário de Figueiredo (Ministro da Educação Nacional), sendo a exposição posteriormente visitada por António de Oliveira Salazar (Chefe do Governo), que “tuvo frases de encomio para la obra, tan hispánica, del pintor”[6].
A exposição de El Poema del Descubrimiento foi inaugurada a 18 de Janeiro de 1941[5], em Lisboa, no estúdio do Secretariado de Propaganda Nacional, seu promotor. Na inauguração estiveram presentes, entre outros, Óscar Carmona (Chefe de Estado), António Ferro (diretor do Secretariado de Propaganda Nacional) e Mário de Figueiredo (Ministro da Educação Nacional), sendo a exposição posteriormente visitada por António de Oliveira Salazar (Chefe do Governo), que “tuvo frases de encomio para la obra, tan hispánica, del pintor”[6].
«O CHEFE DO ESTADO E O MINISTRO DA EDUCAÇÃO [NACIONAL] QUANDO INAUGURARAM A EXPOSIÇÃO DO PINTOR ANDALUZ VÁSQUEZ DÍAZ, NO S.P.N. [SECRETARIADO DE PROPAGANDA NACIONAL]». Estão identificados com numeração na fotografia: 1 - «Armando Boaventura»; 2 - «Senhora Vásquez Díaz» (Eva Aggerholm); 3 - «Vásquez Díaz»; 4 - «Dr. Mário de Figueiredo»; 5 - «Comandante Silva Monteiro»; 6 - «General Carmona»; 7 - «António Ferro»; 8 - «José Alvelos»; 9 - «Manuel Falcão». Imagem: Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
O catálogo desta exposição em Lisboa, intitutlado O Poema do Descobrimento; desenhos, esboços e cartões para as grandes pinturas murais realizadas a fresco por Daniel Vázquez Díaz no histórico Mosteiro de la Rábida (Ano de 1930), é da autoria de José Francés[7], crítico de arte e académico que também esteve envolvido na participação de Vázquez Díaz na III Exposição dos Humoristas Portugueses, em 1920:
- “Obras expostas” (que seriam os estudos preparatórios para a realização da pintura mural do mosteiro):
A povoação de Palos de Moguez (desenho para estampa) (n.1) (lapso no título, seria Palos de Moguer); La Rábida (desenho para estampa) (n.2); Igreja de S. Jorge e a fonte – Lápis plumbeo (n.3); Primeiras linhas para o pórtico «El navegante y el Monge» (n.4); Folhas do caderno de notas (n.5); Folhas do caderno de notas (n.6); Desenho da Caravela ancorada em Sevilha (n.7); Detalhe de uma porta para o painel «Las Conferencias» (n.8); Primeiro estudo para os monges de «Las Conferencias» (n.10); Estudo de vestuário para «Las Conferências» (Adquirido pelo Estado espanhol para o Museu de Arte Moderna) (n.11); Estudo para os leigos «Las Conferencias» – Lápis plumbeo (n.12); Primeiras linhas para o painel de «Las Conferencias» e a mão do Navegante, eixo fundamental da composição (n.13); Primeiras linhas para o painel «Heroicos hijos de Palos y de Moguez» (n.14); O Noviço do painel «Las Conferencias» – Lápis plumbeo (n.15); O Navegante figura central do painel «Las Conferencias» (n.16); Primeiras linhas para a cabeça de Colombo, do painel «El pensamiento del Navegante» (n.17); O leigo do painel «Las Conferencias» (propriedade do Conselho Superior de Missões – Relações Culturais) (n.18); O leigo (propriedade de D. Fernando J. de Larra) (n.19); Estudo de duas cabeças de monges para «Las Conferencias» (n.20); Um monge de «Las Conferencias» (propriedade de D. José María Alfaro) (n.21); Esbôço a côr do painel «Las Naves» – Tempera (n.22); Cabeça do marinheiro da boca aberta (propriedade de D. José Francés) (n.23); Esbôço dos marinheiros – Lápis plumbeo (n.24); Primeiras linhas para o ritmo dos braços ao alto do painel «Las Naves» (propriedade de D. Rodolfo Barón) (n.25); Esbôço (n.26); Esbôço para as Mãis do painel «Las Naves» (n.27); Estudo para as Mãis – Carvão (n.28); Jorge cabeça para «Las Naves» – Lápis plumbeo (n.29); O homem do chapéu «Las Naves» – Lápis plumbeo (n.30); Cabeça para «Las Naves» – Lápis plumbeo. Propriedade de Mr. Guinard (n.31); O homem de perfil – Lápis plumbeo. Propriedade de D. Manuel Prieto Ledesma (n.32); Um primeiro esbôço para a Mãi do painel «Las Naves» (propriedade de D. Victor de la Serna) (n.33); Grupo de três cabeças para os marinheiros – nogalina (n.34); Cabeça para «Las Naves» – Lápis plumbeo (n.35); Perfil de Pinzon para o painel «Heroicos hijos de Palos» (n.36); Cabeça de Pinzon para o painel «Heroicos hijos de Palos» (n.37); Perfil de marinheiro do painel «Heroicos hijos de Palos» (n.38); Composição de «Los Marineros» (adquirido pelo Estado espanhol para o Museu de Arte Moderna) (n.39); O marinheiro da âncora (adquirido pelo Estado espanhol para o Museu de Arte Moderna) (n.40); Desenho ao natural do painel «Las Conferencias» (n.41); Desenho ao natural do painel «Heroicos hijos de Palos y de Moguez» (n.42); Desenho ao natural do painel «Las Naves» (n.43); Pequena nota de côr para o painel «Las Conferencias» (aguarela) (n.44);
- “Óleos”:
O Mosteiro e o rio sagrado (propriedade de D. Maria Tereza de Bouza) (n.45); A Igreja de Santa Maria de La Rábida e o Cristo histórico (adquirido pelo Estado Espanhol) (n.46); Igreja de São Jorge em Palos (n.47); A minha janela La Rábida (n.48); O Mosteiro entre palmeiras (n.49); «La palmera y el pino monumental» (n.50); Palos e a igreja (n.51); A paisagem (n.52); O monge (n.53); O monge (n.54); A pousada das almas (n.55);
- “Fotografias”:
«El pensamiento del Navegante» (fresco) (n.56); «Heroicos hijos de Palos y de Moguez» (fresco) (n.57); «Las Conferencias» (lado esquerdo) (fresco) (n.58); «Las Conferencias» (lado direito) (fresco) (n.59); «Las Naves» (lado esquerdo) (fresco) (n.60); «Las Naves» (lado direito) (fresco) (n.61); Fragmento dos marinheiros do painel «Heroicos hijos de Palos y de Moguez» (fresco) (n.62); Manuel Falla (Desenhos originais da série «Hombres de mi tiempo») (n.63); Mulher da Vasconia (Desenhos originais da série «Hombres de mi tiempo») (n.64); O Professor D. Elias Tormo (Desenhos originais da série «Hombres de mi tiempo») (n.65); O toureiro «Frascuelo» (Desenhos originais da série «Hombres de mi tiempo») (n.66).
O jornal O Século Ilustrado[8] reproduziu fotografias de quatro obras apresentadas na exposição: Las Naves, Los Marineros, O mosteiro e o rio sagrado e O marinheiro da âncora. Embora não seja mencionado no catálogo da exposição, junto aos esboços e estudos preparatórios da obra concluída em La Rábida, Vázquez Díaz também expôs no Secretariado de Propaganda Nacional reproduções do retrato de Ignacio Zuloaga e do retrato da mãe do artista. Para além disso, na entrevista que deu ao Diário de Lisboa[9], Vázquez Díaz informou que o visitante desta exposição podia encontrar reproduções de outros quadros, como Las cuadrillas de Frascuelo, Lagartijo y Mazzantini (1936-1938), o retrato de “Currito” (Francisco Arjona Reys), El Conquistador (que estaria no Museu de Bogotá), e Manequins de Museu antigo (que estaria presente na Exposição Internacional de Veneza).
- “Obras expostas” (que seriam os estudos preparatórios para a realização da pintura mural do mosteiro):
A povoação de Palos de Moguez (desenho para estampa) (n.1) (lapso no título, seria Palos de Moguer); La Rábida (desenho para estampa) (n.2); Igreja de S. Jorge e a fonte – Lápis plumbeo (n.3); Primeiras linhas para o pórtico «El navegante y el Monge» (n.4); Folhas do caderno de notas (n.5); Folhas do caderno de notas (n.6); Desenho da Caravela ancorada em Sevilha (n.7); Detalhe de uma porta para o painel «Las Conferencias» (n.8); Primeiro estudo para os monges de «Las Conferencias» (n.10); Estudo de vestuário para «Las Conferências» (Adquirido pelo Estado espanhol para o Museu de Arte Moderna) (n.11); Estudo para os leigos «Las Conferencias» – Lápis plumbeo (n.12); Primeiras linhas para o painel de «Las Conferencias» e a mão do Navegante, eixo fundamental da composição (n.13); Primeiras linhas para o painel «Heroicos hijos de Palos y de Moguez» (n.14); O Noviço do painel «Las Conferencias» – Lápis plumbeo (n.15); O Navegante figura central do painel «Las Conferencias» (n.16); Primeiras linhas para a cabeça de Colombo, do painel «El pensamiento del Navegante» (n.17); O leigo do painel «Las Conferencias» (propriedade do Conselho Superior de Missões – Relações Culturais) (n.18); O leigo (propriedade de D. Fernando J. de Larra) (n.19); Estudo de duas cabeças de monges para «Las Conferencias» (n.20); Um monge de «Las Conferencias» (propriedade de D. José María Alfaro) (n.21); Esbôço a côr do painel «Las Naves» – Tempera (n.22); Cabeça do marinheiro da boca aberta (propriedade de D. José Francés) (n.23); Esbôço dos marinheiros – Lápis plumbeo (n.24); Primeiras linhas para o ritmo dos braços ao alto do painel «Las Naves» (propriedade de D. Rodolfo Barón) (n.25); Esbôço (n.26); Esbôço para as Mãis do painel «Las Naves» (n.27); Estudo para as Mãis – Carvão (n.28); Jorge cabeça para «Las Naves» – Lápis plumbeo (n.29); O homem do chapéu «Las Naves» – Lápis plumbeo (n.30); Cabeça para «Las Naves» – Lápis plumbeo. Propriedade de Mr. Guinard (n.31); O homem de perfil – Lápis plumbeo. Propriedade de D. Manuel Prieto Ledesma (n.32); Um primeiro esbôço para a Mãi do painel «Las Naves» (propriedade de D. Victor de la Serna) (n.33); Grupo de três cabeças para os marinheiros – nogalina (n.34); Cabeça para «Las Naves» – Lápis plumbeo (n.35); Perfil de Pinzon para o painel «Heroicos hijos de Palos» (n.36); Cabeça de Pinzon para o painel «Heroicos hijos de Palos» (n.37); Perfil de marinheiro do painel «Heroicos hijos de Palos» (n.38); Composição de «Los Marineros» (adquirido pelo Estado espanhol para o Museu de Arte Moderna) (n.39); O marinheiro da âncora (adquirido pelo Estado espanhol para o Museu de Arte Moderna) (n.40); Desenho ao natural do painel «Las Conferencias» (n.41); Desenho ao natural do painel «Heroicos hijos de Palos y de Moguez» (n.42); Desenho ao natural do painel «Las Naves» (n.43); Pequena nota de côr para o painel «Las Conferencias» (aguarela) (n.44);
- “Óleos”:
O Mosteiro e o rio sagrado (propriedade de D. Maria Tereza de Bouza) (n.45); A Igreja de Santa Maria de La Rábida e o Cristo histórico (adquirido pelo Estado Espanhol) (n.46); Igreja de São Jorge em Palos (n.47); A minha janela La Rábida (n.48); O Mosteiro entre palmeiras (n.49); «La palmera y el pino monumental» (n.50); Palos e a igreja (n.51); A paisagem (n.52); O monge (n.53); O monge (n.54); A pousada das almas (n.55);
- “Fotografias”:
«El pensamiento del Navegante» (fresco) (n.56); «Heroicos hijos de Palos y de Moguez» (fresco) (n.57); «Las Conferencias» (lado esquerdo) (fresco) (n.58); «Las Conferencias» (lado direito) (fresco) (n.59); «Las Naves» (lado esquerdo) (fresco) (n.60); «Las Naves» (lado direito) (fresco) (n.61); Fragmento dos marinheiros do painel «Heroicos hijos de Palos y de Moguez» (fresco) (n.62); Manuel Falla (Desenhos originais da série «Hombres de mi tiempo») (n.63); Mulher da Vasconia (Desenhos originais da série «Hombres de mi tiempo») (n.64); O Professor D. Elias Tormo (Desenhos originais da série «Hombres de mi tiempo») (n.65); O toureiro «Frascuelo» (Desenhos originais da série «Hombres de mi tiempo») (n.66).
O jornal O Século Ilustrado[8] reproduziu fotografias de quatro obras apresentadas na exposição: Las Naves, Los Marineros, O mosteiro e o rio sagrado e O marinheiro da âncora. Embora não seja mencionado no catálogo da exposição, junto aos esboços e estudos preparatórios da obra concluída em La Rábida, Vázquez Díaz também expôs no Secretariado de Propaganda Nacional reproduções do retrato de Ignacio Zuloaga e do retrato da mãe do artista. Para além disso, na entrevista que deu ao Diário de Lisboa[9], Vázquez Díaz informou que o visitante desta exposição podia encontrar reproduções de outros quadros, como Las cuadrillas de Frascuelo, Lagartijo y Mazzantini (1936-1938), o retrato de “Currito” (Francisco Arjona Reys), El Conquistador (que estaria no Museu de Bogotá), e Manequins de Museu antigo (que estaria presente na Exposição Internacional de Veneza).
No mesmo artigo do Diário de Lisboa, Daniel Vázquez Díaz é apresentado ao público português como um “pintor grande entre os grandes de Espanha, (que) andou muito por França mas nunca deixou de ser um artista espanhol, com todas as qualidades da raça, com audácias peninsulares de descobridor”. O leitor é lembrado da exposição do pintor em Lisboa no ano de 1923, um evento que trouxe “tal novidade que em torno dele logo se agruparam quase todos os consagrados de hoje, que então eram, para algumas pessoas, apenas os «rapazes» da «Contemporânea» (...)”. Regressado a Espanha e pintados os “muros históricos” de La Rábida com “o relato gráfico, expressionista, da empresa de Colombo, que de ali partiu para a aventura da América”, Vázquez Díaz quis expôr em Madrid os “numerosos estudos prévios” realizados “para conhecimento dos que não puderam ir (...) vê-los (...) em La Rábida”.
Nesta entrevista, Vázquez Díaz manifesta o desejo de pintar os retratos de algumas figuras portuguesas, como Óscar Carmona, Oliveira Salazar, D. Manuel Cerejeira e Reynaldo dos Santos, e incluí-los na sua série Hombres de mi tiempo, que contaria também com o retrato de Guerra Junqueiro, que o pintor data de 1924. Do retrato de Óscar Carmona conserva-se um desenho a lápis e um estudo a óleo inacabado – reproduzido em Vida y obra de Vázquez Díaz[10] –, assim como uma fotografia do momento em que o retrato pousou para o artista[11]. O retrato de Reynaldo dos Santos, terminado em 1943, seria enviado para a Exposición Nacional de Bellas Artes de 1945[12]. Vázquez Díaz afirmou, também, querer “estudar a epopeia marítima dos portugueses e pintar alguns dos seus passos, como em La Rábida pint(ou) os de Colombo”.
O mesmo artigo informa ainda que José Francés, “que da pintura portuguesa se tem ocupado nas revistas espanholas como nosso amigo que é”, viria a Lisboa “para falar da obra de Vázquez Díaz”. Por fim, o artigo noticia que o pintor, acompanhado por Guilherme Pereira de Carvalho, do Secretariado de Propaganda Nacional, foi recebido no dia 15 de Janeiro de 1941 pelo Presidente da República, Óscar Carmona, que aceitou o convite para inaugurar a exposição e prometeu posar para o seu retrato.
No que diz respeito às apreciações estéticas que o conjunto mural recebe na crítica espanhola, destacam-se, pela sua recorrência, as comparações que se estabelecem com os artistas do Quattrocento italiano[13]. Além disso, é de sublinhar a analogia que o Marquês de Lozoya estabelece entre os painéis de Vázquez Díaz e a obra atribuída a Nuno Gonçalves (séc.XV)[14]:
Pero si las referencias al Quattrocento italiano son muchas, no son menos las que le vinculan con los primitivos portugueses y, en concreto, con Nuno Gonçalves: Es admirable su gran decoración al fresco del Monasterio de La Rábida, en que los tipos de frailes, de navegantes y de hombres del pueblo, expresan el carácter de su mandato histórico y las cualidades permanentes de su raza con la fuerza de las tablas de Nuno Gonçalves o de los tapices de Pastrana.
O próprio pintor, ao relatar as suas visitas aos museus lisboetas na companhia de Almada Negreiros, no contexto da sua primeira visita a Portugal para a exposição em Lisboa em Janeiro de 1923, revelou a sua admiração por pintores portugueses “primitivos” como Nuno Gonçalves[15] e Grão Vasco[16]. Desta estadia em 1923, sabemos que Vázquez Díaz regressou a Espanha com um álbum de fotografias e uma série de “cabeças” copiadas em visitas ao Museu Nacional de Arte Antiga, antigo Museu das Janelas Verdes.
Depois da visita do pintor em 1923, no âmbito das suas exposições nas cidades de Lisboa, Coimbra e Porto, Vázquez Díaz regressou a Portugal em 1928, dirigindo-se desta vez às praias da Nazaré: “Allí Vázquez Díaz, además de pintar algunos lienzos de barcazas de pescadores, realiza numerosos apuntes a lápiz de estas bellas mujeres pero también de sus marineros”[17]. Para Berruguete del Ojo, a busca do pintor pela captura da fisionomia destas figuras insere-se já na história da produção do seu Poema del Descubrimiento: “Allí pasó el artista entregado durante algún tiempo «a los estudios para un poema marinero: Mare da vida»”[18].
No dia 5 de Fevereiro de 1941, José Francés[19] deu uma conferência no estúdio do Secretariado de Propaganda Nacional, sob a presidência do subsecretário da Educação Nacional[20], antes de encerrar a exposição de Vázquez Díaz[21]: "Depois de amistosas saudações a Portugal, entrelaçando sintéticos e inteligentes comentários sobre escritores dos dois países ibéricos, (Francés) terminou a sua colorida oração com uma análise à pintura de Vasquez Diaz e o voto de que a península dos heróicos navegadores de outrora se lance em voos pelo infinito, perpetuando a glória dos dois povos amigos[22].
No dia 7 de Fevereiro de 1941, sob a presidência de Reynaldo dos Santos, realizou-se um banquete de homenagem a Vázquez Díaz[23], cujas inscrições foram aceites no estúdio do Secretariado de Propaganda Nacional e no Café A Brasileira do Chiado[24], estando presentes elementos da embaixada de Espanha, professores do Instituto Espanhol de Lisboa, membros do Secretariado de Propaganda Nacional e pintores e escritores portugueses[25], como Almada Negreiros, Eugénio Montes, Guilherme Felipe e António Ferro. No banquete, foi lida uma carta de Aquilino Ribeiro defendendo a amizade hispano-lusitana e ibero-americana e, Vázquez Díaz, evocando a memória de José Pacheco, recordou a antiga camaradagem com Leal da Câmara. José Francés leu uma carta do ministro da Argentina, Perez Quezada, onde o autor também defendeu a amizade peninsular e sul-americana[26].
[1] Benjamin Weil e Maria José Salazar, Retratos: Esencia y Expresión – Obras Maestras del Siglo XX Procedentes de la Colección de Jaime Botín, ed. Begoña Guerrica Echevarría (Santander: Fundación Botín, 2018).
[2] Ángel Benito, «Los frescos de La Rábida», em Poema del Descubrimiento: Los bocetos de Santa Maria de la Rábida, ed. Juan Pedro Aladro Durán (Madrid: Cinterco, D.L., 1990).
[3] Ana Berruguete del Ojo, «Daniel Vázquez Díaz, entre tradición y vanguardia» (Doutoramento, Madrid, Facultad de Geografía e Historia da Universidade Complutense de Madrid, 2015), 574.
[4] Berruguete del Ojo, «Daniel Vázquez Díaz, entre tradición y vanguardia», 574.
[5] Anónimo, «O pintor Vasquez Diaz vai expôr no estudio do S.P.N. os esbocetos da decoração de La Rabida», Diário de Lisboa, 15 de janeiro de 1941.
[6] Anónimo, “La exposición de Vázquez Díaz visitada por Oliveira Salazar”, Heraldo de Zamora, 4 de Fevereiro de 1941, 1.
[7] José Francés, O Poema do Descobrimento; desenhos, esboços e cartões para as grandes pinturas murais realizadas a fresco por Daniel Vázquez Díaz (Estúdio do Secretariado da Propaganda Nacional, 1941).
[8] Anónimo, «Belas Artes», O Século Ilustrado, 8 de Fevereiro de 1941.
[9] Anónimo, «O pintor Vasquez Diaz vai expôr no estudio do S.P.N. os esbocetos da decoração de La Rabida», 4.
[10] Francisco Garfias, Vida y obra de Daniel Vazquez Diaz (Madrid: Iberico Europea, 1972).
[11] Berruguete del Ojo, «Daniel Vázquez Díaz, entre tradición y vanguardia».
[12] Juan Manuel Bonet, «Portugal-España 1900-1936: Artes Plásticas», em Suroeste. Relações literárias e artísticas entre Portugal e Espanha (1890-1936), ed. Antonio Sáez Delgado e Luis Manuel Gaspar (Badajoz: Sociedad Estatal de Conmemoraciones Culturales/MEIAC, 2010), 54.
[13] Berruguete del Ojo, «Daniel Vázquez Díaz, entre tradición y vanguardia».
[14] Berruguete del Ojo, «Daniel Vázquez Díaz, entre tradición y vanguardia», 383.
[15] Na entrevista dada à Contemporânea em novembro de 1922, questionado por Oliveira Mouta sobre os pintores portugueses consagrados, Vázquez Díaz respondeu “Ah! Um grande mestre: Nuno Gonçalves! Uma maravilha!”. Oliveira Mouta, «Ainda sobre Vasquez Diaz», Contemporânea, Novembro de 1922, 2.
[16]Berruguete del Ojo, «Daniel Vázquez Díaz, entre tradición y vanguardia».
[17] Ana Berruguete, «Vázquez Díaz y Portugal», em Suroeste. Relações literárias e artísticas entre Portugal e Espanha (1890-1936), ed. Antonio Sáez Delgado e Luis Manuel Gaspar (Badajoz: Sociedad Estatal de Conmemoraciones Culturales/MEIAC, 2010), 337.
[18] Nota manuscrita del pintor con el título «Nazaret». Archivo particular, Madrid, citado por Berruguete del Ojo, «Vázquez Díaz y Portugal», 337.
[19] Que tinha tido uma viagem acidentada até Lisboa. Anónimo, «De Madrid a Lisboa. José Francés conta-nos as peripecias duma acidentada viagem de avião», Diário de Lisboa, 1 de fevereiro de 1941.
[20] Anónimo, «Conferencias», Diário de Lisboa, 5 de fevereiro de 1941.
[21] Anónimo, «A obra de Vasquez Diaz apreciada por José Francés», Diário de Lisboa, 2 de fevereiro de 1941.
[22] Diogo de Macedo, «Noticiário», Ocidente: Revista portuguesa mensal, Março de 1941, 446.
[23] Anónimo, «Figuras e factos», Mundo Gráfico, 15 de fevereiro de 1941.
[24] Anónimo, «A obra de Vasquez Diaz apreciada por José Francés».
[25] Anónimo, «Daniel Vazquez Diaz», Diário de Lisboa, 7 de fevereiro de 1941.
[26] Anónimo, «O banquete a Vazquez Diaz foi uma bela festa do espirito», Diário de Lisboa, 8 de fevereiro de 1941.