Exposição individual de vázquez díaz no porto (2.1923)
A exposição, que apresentou as mesmas obras exibidas no salão da Ilustração Portuguesa (Lisboa) e no Hotel Avenida (Coimbra), foi inaugurada a 21 de Fevereiro de 1923 na Sociedade de Belas Artes do Porto, contando com a presença do diretor da Universidade, dos diretores dos museus da cidade, e de muitos estudantes, artistas e escritores[1].
Em A Águia, Álvaro de Morais (1902-1941) caracterizou a exposição como “uma grande revelação” das “correntes inovadoras que de há muito deram às artes plásticas novas formas de expressão”, mas que até ao momento só eram conhecidas pelo público português através das publicações da crítica de arte, “que muita vez sacrificavam às necessidades dialéticas as espontâneas revelações da arte”[2]. Para Morais, as obras Retrato de mi Mujer e Las casas del canal demonstravam a capacidade do artista de captar o instante, quando este “abandona(va) a ansiosa procura da novidade, para se limitar a traduzir uma paisagem serena, a elegância fugidia de uma atitude”. Para além destes dois quadros, impressionaram o crítico outras obras: El Cartujo, onde lhe elogiou a captura da essencialidade da figura do monge, que o pintor conseguiu “desdenhando tudo o que era secundário”[3]; Mujer vascongada, pelo seu regionalismo, ao expressar “toda a violência da terra basca”; e os retratos de Ortega y Gasset, Manuel de Falla e Luís Recasens. Elogiou ainda as águas-fortes do artista, onde ele soube “traduzir algumas visões dramáticas das cidades francesas feridas pela guerra”. Por fim, Álvaro de Morais reforçou o quão bem foi acolhido o pintor espanhol, não só pelo público como pela crítica.
Durante a exposição no Porto, a imprensa informou os seus leitores de que o pintor tinha sido convidado a visitar o poeta Guerra Junqueiro, para a realização de um retrato cujo paradeiro é hoje desconhecido, embora tenha sido publicado em La Esfera um estudo preparatório do mesmo e uma fotografia do encontro do pintor com o poeta português, ambos publicados em Espanha após a morte de Guerra Junqueiro em julho do mesmo ano[4].
Para La Correspondencia de España, a receção do pintor e das suas obras em Coimbra e no Porto, que não ficou aquém da que teve na capital, mostra que o objetivo principal da sua visita a Portugal foi cumprido:
Cuando se hizo pública la invitación que lo más selecto y representativo de la intelectualidad portuguesa dirigía a nuestro pintor para que realizara esta exposición que tan afortunada ha sido, dijimos que Vázquez Díaz iría a Portugal como altísimo embajador de España y su embajada ha sido llena de fecundas realidades. Como esperábamos de quien llevaba a nuestros hermanos de la Península puras esencias de espíritu.[5]
Em La Libertad[6], informou-se o público espanhol de que a imprensa portuguesa tinha proposto a aquisição de uma obra do pintor à Câmara Municipal do Porto, para ser incorporada no espólio do museu "regional".
Quando Vázquez Díaz visitou Portugal pela primeira vez, em 1922, na preparação das três exposições que realizaria no início de 1923, assegurou que a sua intenção não era pintar, deixando tais possibilidades para uma viagem posterior, embora tenha tido consciência da inspiração que a estadia iria ter na sua produção futura: Lisboa cativou-lhe pela sua luz e Coimbra pela sua arquitetura[7]. De acordo com Juan Bonet, a estadia de Vázquez Díaz em Portugal na segunda metade do ano de 1922, terá inspirado a obra La Rúa de Portugal mas também Mi ventana sobre Portugal, La Ventana de Portugal (ou La pecera), e Marineros de Nazaré[8].
Sabemos que Vázquez Díaz regressou a Espanha com um álbum de fotografias e uma série de “cabeças” copiadas em visitas ao Museu Nacional de Arte Antiga, antigo Museu das Janelas Verdes. O próprio pintor relatou tais visitas aos museus lisboetas, na companhia de Almada Negreiros[9], e revelando a sua admiração por pintores portugueses “primitivos” como Nuno Gonçalves[10] e Grão Vasco[11].
[1] Ana Berruguete, «Vázquez Díaz y Portugal», em Suroeste. Relações literárias e artísticas entre Portugal e Espanha (1890-1936), ed. Antonio Sáez Delgado e Luis Manuel Gaspar (Badajoz: Sociedad Estatal de Conmemoraciones Culturales/MEIAC, 2010), 329.
[2] Álvaro de Morais, «Vazquez-Diaz», A Águia: revista quinzenal ilustrada de literatura e crítica, 1 de Março de 1923, 130.
[3] Morais, 131.
[4] Berruguete del Ojo, «Daniel Vázquez Díaz, entre tradición y vanguardia» (Doutoramento, Madrid, Facultad de Geografía e Historia da Universidade Complutense de Madrid, 2015).
[5] Anónimo,“Los triunfos de Vázquez Díaz en Portugal”, La Correspondencia de España (Madrid), 24 de Fevereiro de 1923, 6.
[6] Anónimo, «De Portugal», La Libertad, 27 de Fevereiro de 1923, 1.
[7] Berruguete del Ojo, «Daniel Vázquez Díaz, entre tradición y vanguardia», 2015.
[8] Antonio Sáez Delgado, «Suroeste: El universo literario de un tiempo total en la Península Ibérica (1890-1936)», em Suroeste. Relações literárias e artísticas entre Portugal e Espanha (1890-1936), ed. Antonio Sáez Delgado e Luis Manuel Gaspar (Badajoz: Sociedad Estatal de Conmemoraciones Culturales/MEIAC, 2010).
[9] Também foi nesta primeira visita a Portugal que Vázquez Díaz conheceu Almada Negreiros, de quem desenhou uma efígie para a capa d’A Scena do ódio, texto publicado n’A Contemporânea, em janeiro de 1923. Almada Negreiros iria homenagear Vázquez Díaz na inauguração da sua exposição-apresentação em Madrid no dia 17 de junho de 1927: “A la memoria de Juan Gris y a Picasso, Sunyer, Vázquez Díaz y Solana dedica esta exposición Almada”. Antonio Espina, «Almada Negreiros», La Gaceta Literaria, 1 de Julho de 1927, 5.
[10] Na entrevista dada à Contemporânea em novembro de 1922, questionado por Oliveira Mouta sobre os pintores portugueses consagrados, Vázquez Díaz respondeu “Ah! Um grande mestre: Nuno Gonçalves! Uma maravilha!”. Mouta, «Ainda sobre Vasquez Diaz», 2.
[11] Berruguete del Ojo, «Daniel Vázquez Díaz, entre tradición y vanguardia», 2015.
[1] Ana Berruguete, «Vázquez Díaz y Portugal», em Suroeste. Relações literárias e artísticas entre Portugal e Espanha (1890-1936), ed. Antonio Sáez Delgado e Luis Manuel Gaspar (Badajoz: Sociedad Estatal de Conmemoraciones Culturales/MEIAC, 2010), 329.
[2] Álvaro de Morais, «Vazquez-Diaz», A Águia: revista quinzenal ilustrada de literatura e crítica, 1 de Março de 1923, 130.
[3] Morais, 131.
[4] Berruguete del Ojo, «Daniel Vázquez Díaz, entre tradición y vanguardia» (Doutoramento, Madrid, Facultad de Geografía e Historia da Universidade Complutense de Madrid, 2015).
[5] Anónimo,“Los triunfos de Vázquez Díaz en Portugal”, La Correspondencia de España (Madrid), 24 de Fevereiro de 1923, 6.
[6] Anónimo, «De Portugal», La Libertad, 27 de Fevereiro de 1923, 1.
[7] Berruguete del Ojo, «Daniel Vázquez Díaz, entre tradición y vanguardia», 2015.
[8] Antonio Sáez Delgado, «Suroeste: El universo literario de un tiempo total en la Península Ibérica (1890-1936)», em Suroeste. Relações literárias e artísticas entre Portugal e Espanha (1890-1936), ed. Antonio Sáez Delgado e Luis Manuel Gaspar (Badajoz: Sociedad Estatal de Conmemoraciones Culturales/MEIAC, 2010).
[9] Também foi nesta primeira visita a Portugal que Vázquez Díaz conheceu Almada Negreiros, de quem desenhou uma efígie para a capa d’A Scena do ódio, texto publicado n’A Contemporânea, em janeiro de 1923. Almada Negreiros iria homenagear Vázquez Díaz na inauguração da sua exposição-apresentação em Madrid no dia 17 de junho de 1927: “A la memoria de Juan Gris y a Picasso, Sunyer, Vázquez Díaz y Solana dedica esta exposición Almada”. Antonio Espina, «Almada Negreiros», La Gaceta Literaria, 1 de Julho de 1927, 5.
[10] Na entrevista dada à Contemporânea em novembro de 1922, questionado por Oliveira Mouta sobre os pintores portugueses consagrados, Vázquez Díaz respondeu “Ah! Um grande mestre: Nuno Gonçalves! Uma maravilha!”. Mouta, «Ainda sobre Vasquez Diaz», 2.
[11] Berruguete del Ojo, «Daniel Vázquez Díaz, entre tradición y vanguardia», 2015.