EXPOSIÇÃO DE daniel VÁZQUEZ dÍAZ no hotel avenida, COIMBRA (2.1923)
No dia 10 de Fevereiro[1], foi inaugurada uma exposição de Vázquez Díaz no Hotel Avenida, em Coimbra, das mesmas obras apresentadas no salão da Ilustração Portuguesa, em Lisboa, no mês anterior. As opiniões são díspares. O artista Germano Vieira, entrevistado pelo jornal A Cidade[2], elogiou a capacidade de Vázquez Díaz de "(...) dar um grande carácter e acentuação especialmente aos retratos, destacando (...) o de (Miguel de) Unamuno e também o do «Advogado» (Retrato del Abogado Enríquez). (...) sem reserva, o artista é ótimo. Destrambelha um pouco dos moldes clássicos, à primeira vista. Porém detidamente observado, vê-se que não desmente as normas do classicismo".
No mesmo periódico, Guilherme Filipe (1897-1971) celebrou a vinda do pintor espanhol – “Não só porque é um amigo, mas porque é Vázquez Diaz e sobretudo porque ele é a guarda avançada da Europa nas fileiras da pintura”[3] – a Coimbra, uma cidade que ele sentia estar “cada vez mais longe da vida”, uma cidade que ficaria “reduzida a um sarcófago, ao sarcófago duma idade que a renascença Coimbrã tornou notável, se não reagi(sse) no sentido duma arte moderna (...)”. Assim, Filipe viu na exposição de Vázquez Díaz uma oportunidade de integrar Coimbra “no mundo moderno”, visto que a arte do pintor espanhol era “conscientemente renovacionária (sic)”; por trazer “sempre a frescura do inédito. (...) Oxalá que ao menos fique entre nós alguns dos seus quadros...”[4].
Já Alexandre D’Aragão, no seu artigo sobre uma “segunda” exposição de Guilherme Filipe em Coimbra[5], refere que:
(...) quando da exposição Vázquez Díaz, nos abstivemos de falar do quadro Madre Campesina, para não intercalar num laudatório, que julgamos merecido, um período da decisiva discordância – quadro que era bem um tresmalho das suas faculdades. ¿Que era a «Madre Campesina»? Uma figura chata e parada, resultante duma intencional invariabilidade de processo, com listões alastrantes de cores vivas sem gradações, e em que certas manchas cediças do rosto sugeriam um quadro que estivesse na antecâmara de atelier, à espera de restauração...
[1] Anónimo, «Pintura», A Cidade, 10 de Fevereiro de 1923, 5.
[2] Anónimo, «A exposição do pintor Vasquez Diaz. A Cidade ouve um apreciador autorizado. Fala o artista Sr. Dr. Germano Vieira», A Cidade, 17 de Fevereiro de 1923.
[3] Guilherme Filipe, «Arte. O Pintor Vasquez Diaz. A sua exposição em Coimbra», A Cidade, 7 de Fevereiro de 1923, 3.
[4] O desejo de adquirir pelo menos uma obra de Vázquez Díaz para o Museu de Arte Contemporânea em Lisboa é expresso por estudantes e intelectuais da cidade. Anónimo, «Notas Varias de Portugal», ABC, 21 de Fevereiro de 1923, 18.
[5] Alexandre D’Aragão, «A segunda exposição: Guilherme Filipe», Byzancio: revista coimbrã, arte e letras, Junho de 1923, 16.