XLVI Exposição Anual de Pintura a Óleo e Escultura, na SOCIEDADE NACIONAL DE BELAS ARTES, LISBOA (4.1949)
O Salão da Primavera, ou XLVI Exposição Anual de Pintura a Óleo e Escultura da Sociedade Nacional de Belas Artes, foi inaugurado a 16 de Abril de 1949, contando com a presença do Chefe de Estado, Óscar Carmona[1].
Ricardo Navarro Poves participou no certame com a obra Hilandera (n.158), à venda pelo valor de 20.000 escudos. O pintor é indicado como discípulo de Louis Maistre e vencedor da Terceira Medalha no Salão do Estoril[2] (galardoada na Exposição do Casino do Estoril em Outubro de 1943?). É fornecida a morada do pintor: Rua de Cândido dos Reis, 90, 2º andar, em Braga.
No Diário de Lisboa[3], um redator anónimo saludou os organizadores deste Salão da Primavera que, tal “como os cozinheiros”, “com os mesmos elementos e acepipes culinários tanto fazem um bom como um mau jantar”, sendo que a exposição em questão foi classificada como “excelente (ou quase)”. Para o autor, em comparação aos salões imediatamente anteriores, o de 1949 foi “mais fresco, mais lavado, mais bem composto”, conseguindo conciliar “extremos de hiper-modernistas e de semi-académicos, respeitosos dos cânones do desenho e da pintura”. Para atingir o nível de excelência, faltou o carácter de novidade: “Não, que se respire algo de novo, mas, enfim, o aspeto é agradável, simpático, com uma certa alacridade esfuziante, autenticamente primaveril”.
Em Julho de 1949, Adolfo Lizón informou o público espanhol, através das páginas de La Nueva España[4], que cinco pintores valencianos se encontravam a pintar e a expôr em Lisboa, sendo eles José Antonio Molina Sánchez, Ricardo Navarro Poves, Luis Colomina Domingo, Fernando Escrivà e Amparo Palacios Escrivà.
Em Novembro de 1949, Lizón, nas páginas do mesmo periódico[5], informava o público espanhol da recente despedida de quatro pintores valencianos – Luis Colomina Domingo, Amparo Palacios Escrivá, Francisco Ruiz Ferrándis e Fernando Escrivá –, que terá sido festejada numa adega do Bairro Alto, em Lisboa. Ricardo Navarro Poves não é mencionado nesta despedida, pelo que podemos deduzir que já não se encontrava em Portugal em Novembro de 1949. A despedida significava o regresso destes artistas a Espanha, depois de meses de exposições contínuas “en todo Portugal”: “Fué una verdadera invasión. (...) Pues sabes, lector, ¿cuantos pintores valencianos habitaban la capital portuguesa? Nada menos que siete”. Para além dos quatro mencionados, de Ricardo Navarro Poves - que, de acordo com o artigo de Lizón de Julho, estaria a expôr em Lisboa nesse verão - e de José Antonio Molina Sánchez, não sabemos a que outro pintor se refere.
De acordo com Lizón, os quatro artistas citados, a quem “la flor de la sociedad, el arte y las letras de Lisboa” ofereceu esta homenagem, realizaram em Portugal “veinte exposiciones, pintaron cincuenta retratos, vendieron cien cuadros”, dados que contrastam com as exposições registadas – de Ruiz Ferrándis, de Colomina Domingos em Junho, de Amparo Palacios Escrivá e Fernando Escrivá em Julho, e de Ricardo Navarro Poves. Segundo o redator, os salões do Secretariado Nacional de Informação teriam estado ininterruptamente ocupados com as exposições destes artistas durante meio ano. Na imprensa portuguesa, “las plumas más prestigiosas les dedicaron continuamente elogios, y en ruas y mentideros lisboetas se hablaba con admiración de estos cuatro valencianos (...)”.
Para Lizón, com a partida do núcleo principal de representação artística valenciana, Lisboa teria ficado “orfã” de uma arte comovedora e carinhosamente espiritual, já consagrada pela crítica “de toda la peninsula”. E o redator concluiu com a certeza de que o êxito alcançado em Portugal por estes pintores valencianos elevou o prestígio da pintura espanhola no “vecino” e “fraterno país”.
[1] Anónimo, «“Salão da Primavera”», Diário de Lisboa, 13 de Abril de 1949.
[2] Sociedade Nacional de Belas Artes, ed., Salão da Primavera: XLVI Exposição anual de pintura a óleo e escultura (Lisboa: Sociedade Nacional de Belas Artes, 1949).
[3] Anónimo, «O Salão da Primavera. Uma boa exposição de pintura e escultura que reconcilia o público com a Sociedade Nacional de Belas Artes», Diário de Lisboa, 16 de Abril de 1949, 8.
[4] Adolfo Lizón, «Cinco pintores españoles triunfan en Lisboa», La Nueva España, 14 de Julho de 1949, 3.
[5] Adolfo Lizón, «Cuatro pintores valencianos gloriosamente victoriosos en Portugal», La Nueva España, 20 de Novembro de 1949, 3.