Exposição de amparo palacios escrivá e fernando escrivá no sECRETARIADO NACIONAL DE INFORMAÇÃO (7.1949)
Em julho de 1949, a pintora catalã Amparo Palacios Escrivá e o pintor valenciano Fernando Escrivá inauguraram uma exposição coletiva no Secretariado Nacional de Informação, em Lisboa[1].
Obras expostas de Amparo Palacios: A colhida do toureiro (n.1), Sagrada família (n.2), Maternidade (n.3), Maternidade (n.4), Paisagem romântica (n.5), A menina do novelo (n.6), Primavera (n.7), O camarote da Ópera (n.8), Marinha (n.9), O Sedutor (n.10), Dama e cavalheiro do Séc. XIX (n.11), Senhora de mascarilha (n.12), Sonho (n.13) e Verão (n.14).
Obras de Fernando Escrivá: O Camarote da Praça de Touros (n.15), Menina com Boneco (n.16), Dois Irmãos (n.17), Minhota (n.18), Peixeira da Nazaré (n.19), Sevilhana (n.20), Paisagem (n.21), Paisagem (n.22), O Pão (n.23), Nu (n.24), A cega (n.25), Rapariga dormindo (n.26), Ecce Homo (n.27), Vivi (n.28), Lilita (n.29), Natureza morta (n.30, n.31 e n.32).
Ambos os artistas são apresentados no catálogo. Amparo Palacios Escrivá é descrita como "uma pintora que se formou a si própria sem ter passado por nenhuma escola, o que lhe permitiu desenvolver a sua personalidade livre de quaisquer influências". Não pertence a nenhuma escola ou corrente estética embora, para o autor, "se tivéssemos de classificá-la dentro de algum movimento artístico, teríamos, como mais apropriado, o expressionismo". Além disso, para além de "muito moderna", a artista é ainda "uma pintora clássica":
Como dela disse Eugénio d’Ors - «é a continuadora duma tradição de classicismo numa época de isolados protagonistas». (...) Ainda há pouco, quando da sua exposição em Bilbau, por ocasião do centenário de Goya, o conceituado crítico de arte «Besora», escreveu: «Amparo Palacios mostra-nos a sua interessante trajetória que vai de Renoir a Filipo Lippi. Começa com os primitivos italianos e termina em Goya e nos inovadores franceses. É uma pintora de sensibilidade esquisita que une a delicadeza de Lippi com o vigor de Goya, confundindo-os na técnica de Renoir. Mistura feliz, e nas mãos de Amparo Palacios, acertadíssima.
De Fernando Escrivá, é mencionada a sua formação em diferentes escolas europeias: doutorado em direito e filosofia pela Universidade Central, participou em conferências e integrou cátedras de História da Arte Espanhola e de Arte Contemporânea na Escola Superior de São Carlos (Valência). A sua pintura, que pode ser visitada em vários países europeus e nos Estados Unidos da América, "onde fez sempre com grande êxito, diversas exposições", é influenciada "pelos movimentos modernos europeus, passando pelas formas externas do clássico; apesar do seu temperamento romântico, (...) manifesta-se em luta constante entre o «pathos» pessoal e a sua aspiração, atingindo formas de sereno equilíbrio" .
Em Julho de 1949, Adolfo Lizón informou o público espanhol, através das páginas de La Nueva España[2], que cinco pintores valencianos se encontravam a pintar e a expôr em Lisboa, sendo eles José Antonio Molina Sánchez, Ricardo Navarro Poves, Luis Colomina Domingo, Fernando Escrivà e Amparo Palacios Escrivà. Segundo o redator, Colomina Domingo e Fernando Escrivà (e portanto, Amparo Palacios Escrivà) teriam exposto em simultâneo (a exposição de Colomina Domingo foi inaugurada em Junho e a do casal Escrivà em Julho), artistas a quem se teria oferecido um banquete, dado o seu “éxito indiscutible”. A comissão organizadora destas exposições seria composta pelo embaixador de Espanha em Portugal (Nicolás Franco), Eugenio Montes (diretor do Instituto Espanhol de Lisboa) e o coronel Medrano, entre outros “de inferior categoria”.
O banquete realizou-se no Bairro Alto lisboeta, foi presidido pela mulher de Nicolás Franco, María Isabel Pascual del Pobil y Ravello, e contou com a presença de Nicolás Franco, a Viscondessa de Carnaxide, o coronal Medrano e meia centena de participantes. No seu decorrer, Humberto II de Itália juntou-se ao banquete, acompanhado da princesa de Belmonte e de Rodolfo Graziani: “Todos los convidados, casi por completo españoles, dieron, puestos en pie, un estentóreo viva a Italia (...)”.
Em Novembro de 1949, Lizón, nas páginas do mesmo periódico[3], informava o público espanhol da recente despedida de quatro pintores valencianos – Luis Colomina Domingo, Amparo Palacios Escrivá, Francisco Ruiz Ferrándis e Fernando Escrivá –, que terá sido festejada, mais uma vez, numa adega do Bairro Alto, em Lisboa. A despedida significava o regresso destes artistas a Espanha, depois de meses de exposições contínuas “en todo Portugal”: “Fué una verdadera invasión. (...) Pues sabes, lector, ¿cuantos pintores valencianos habitaban la capital portuguesa? Nada menos que siete”. Para além dos quatro mencionados, de Ricardo Navarro Poves - que, de acordo com o artigo de Lizón de Julho, estaria a expôr em Lisboa nesse verão - e de José Antonio Molina Sánchez, não sabemos a que outro pintor se refere.
De acordo com Lizón, os quatro artistas citados, a quem “la flor de la sociedad, el arte y las letras de Lisboa” ofereceu esta homenagem, realizaram em Portugal “veinte exposiciones, pintaron cincuenta retratos, vendieron cien cuadros”, dados que contrastam com as exposições registadas – de Ruiz Ferrándis, de Colomina Domingos em Junho, de Amparo Palacios Escrivá e Fernando Escrivá em Julho, e de Ricardo Navarro Poves. Segundo o redator, os salões do Secretariado Nacional de Informação teriam estado ininterruptamente ocupados com as exposições destes artistas durante meio ano. Na imprensa portuguesa, “las plumas más prestigiosas les dedicaron continuamente elogios, y en ruas y mentideros lisboetas se hablaba con admiración de estos cuatro valencianos (...)”.
Para Lizón, com a partida do núcleo principal de representação artística valenciana, Lisboa teria ficado “orfã” de uma arte comovedora e carinhosamente espiritual, já consagrada pela crítica “de toda la peninsula”. E o redator concluiu com a certeza de que o êxito alcançado em Portugal por estes pintores valencianos elevou o prestígio da pintura espanhola no “vecino” e “fraterno país”.
[1] Presidência do Conselho e Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo, eds., Exposição dos artistas Amparo Palacios Escrivá e Fernando Escrivá: catálogo (Lisboa: S.N.I., 1949).
[2] Adolfo Lizón, «Cinco pintores españoles triunfan en Lisboa», La Nueva España, 14 de Julho de 1949, 3.
[3] Adolfo Lizón, «Cuatro pintores valencianos gloriosamente victoriosos en Portugal», La Nueva España, 20 de Novembro de 1949, 3.