Exposição individual de LUIZ ALSINA NO Secretariado de propaganda nacional, lisboa (9.10.1943-17.10.1943)
A exposição de Luis Alsina, "quadros a óleo e a guache, sobre motivos portugueses (...)”[1] realizou-se entre os dias 9[2] e 17[3] de Outubro de 1943, no estúdio do Secretariado de Propaganda Nacional, em Lisboa.
Catálogo (preços em escudos)[4]:
Maternidade (Gouache) (n.1, 3.000$); A estrada (Gouache) (n.2, 2.500$); Mulheres na fonte (Gouache) (n.3, 2.000$); Mulheres em frente ao mar (Óleo) (n.4, 2.000$); Varinas (Óleo) (n.5, 2.500$); Varina e criança (Gouache) (n.6 e n.7, 2.000$ cada); Mulher com bilha (Gouache) (n.8, 1.500$); Mulheres na fonte (Gouache) (n.9, 3.000$); Lisboa (Óleo) (n.10, 1.500$); Nu (Gouache) (n.11, n.13 e n.14, 2.000$ cada); Nu (Gouache) (n.12, 3.000$); Mulher com bilha (Goauche) (n.15, 1.800$); Varinas (Gouache) (n.16, 1.000$); Refugiada (Gouache) (n.17, 5.000$); Refugiada (Gouache) (n.18, 2.000$); Lisboa (Gouache) (n.19, 2.500$); Varina e barcos (Gouache) (n.20, 1.500$); Varina na escada (Óleo) (n.21, 2.500$); Mulheres e barcos (Gouache) (n.22, 1.500$); Varina (Gouache) (n.23, 2.000$); Mulheres na fonte (Gouache) (n.24, 1.000$); Mulheres e barcos (Gouache) (n.25, 2.000$); Ericeira (Gouache) (n.26, 1.500$); Lisboa (Gouache) (n.27, 2.000$); Varina (Gouache) (n.28, 800$); Mulheres com bilhas (Gouache) (n.29, 2.500$); Croquis aguarelados (n.30 a n.39, 500$).
No artigo de Adriano de Gusmão em Seara Nova, Luís Alsina é referido como “um espanhol há muito entre nós” que, com a sua exposição no S.P.N., trouxe a Portugal duas surpresas, sendo elas a sua “delicada e poética personalidade artística” e a “matéria da sua arte”. Adriano de Gusmão elogia o trabalho do pintor a guache, que representa a maioria dos seus trabalhos expostos, assim como as composições dos seus “pequenos” quadros:
Ama a côr, mas ama a subtileza da côr. (...) Luís Alsina parece um músico impressionista, estimando sonoridades delicadas e preciosas. Nos seus quadrinhos, a côr tem uma suave beleza, côr que, no entanto, não é a real. Lá não há côres locais nem as resultantes de efeitos luminosos da atmosfera. A côr é simplesmente a que o artista viu, idealizou, e gostou que entrasse na harmonia geral de composição. / Porque Luís Alsina tem um invulgar e muito agradável sentido de composição.[5]
No entanto, embora tenha um “sentido apurado de composição”, Gusmão não crê que Alsina “chegue à grande pintura decorativa” já que, “não tanto pela matéria como pelo estado geral do conteúdo dos trabalhos, tudo aquilo dá a ideia de se encontrar em esboço. A pintura exibida por Luís Alsina parece uma pintura provisória, estudos para futuros quadros provavelmente nunca realizáveis, porque o artista deve entregar-se todo nestes seus belos guachos”.
Para Gusmão, a preferência matérica do pintor pelo guache faz com que os poucos óleos que expõe “enganem” o observador, por se assemelharem aos guaches. No que toca ao conteúdo, Gusmão refere a preferência do artista pelas mulheres e barcos – “É este o seu tema predileto, além das suas modernas madonas”[6]. No quadro Mulheres e barcos (n.22), Gusmão vê “longínquos ecos das unidades cromáticas e harmoniosas dum Gauguin (...)”. Em Nu (n.12), elogia a “cadência da composição” que confere uma “bela oscilação às massas figuradas”, onde “o corpo da mulher, com bonita carnação, contrabalança o movimento das linhas do barco”.
No geral, Gusmão conclui:
Luís Alsina tem um desenho livre, bonito, expressivo, estrutural, moderno numa palavra. E tão pintor com a sua cor, o desenho, no entanto, tem, mais duma vez, um firme e estilizado traço semelhante ao dos escultores. Alsina dispõe pois de condições naturais dum agrado fácil, sem mentir a si próprio nem desvirtuar a sua arte. Basta-lhe ser ele mesmo, com as suas limitações, decerto, mas também com os atrativos duma deliciosa forma e fina sensibilidade. E a arte não vive só de figuras dominantes, pois o amador gosta até de encontrar obrazinhas deleitáveis, de pequenos e sinceros artistas, dignos de se incorporarem numa colecção ou galeria. E a galeria tanto pode ser particular como pública, no caso dum Museu...
L. de B., no artigo publicado nas páginas d’O Século[7], apresenta o pintor, “catalão, segundo cremos”, que estaria em Portugal há vários anos no momento da exposição. Relembra os seus leitores da “brilhante, valiosa, inteligentíssima colaboração artística na Exposição do Mundo Português”, onde o artista “deu, ali, provas sobejas do seu alto valor como artista a quem se pode entregar, afoitamente, uma decoração da mais transcendente responsabilidade”:
Sabe estudar, sabe buscar as fontes documentais, sabe desenhar, sabe pintar e conhece, técnica e profissionalmente, a fundo, o seu ofício. Não se trata dum destes artistas estrangeiros que o acaso dos naufrágios da guerra fez aportar as raias lusitanas e que mostram as suas habilidades mais ou menos interessantes. Não... Alsina é um grande artista em qualquer continente e em qualquer latitude. Abre, pois, com bons augúrios, esta «saison» o estúdio do Secretariado.
O crítico qualifica a exposição de Alsina como “uma galeria variada e interessante sob muitos aspetos”, que revela ao público português “uma finíssima e rica sensibilidade de pintor”. A pintura de Alsina, que L. de B. localiza nas vizinhanças dos “não-impressionistas”, é de “extraordinária fluência e frescura, de marcações esquemáticas muito seguras de desenho, (...). O sentido de composição, sempre, sem um desvio, marcando o alto sentido pictórico e plástico do artista, revela-se plenamente”. Sobre a sua cor, de “incomparável espontaneidade”, destacam-se “as manchas (...) repousantes e harmoniosas, pessoais, espirituosas, elegantes”. O ritmo e o “movimento” das suas composições, que lhes conferem “um certo «expressionismo» de atitudes”, contribuem para dar um “interesse muito fora do vulgar” aos quadros de Alsina. Porém, o maior interesse que o público lisboeta pode encontrar ao visitar esta exposição assenta na inspiração temática do artista, que mais uma vez soube “estudar”, baseando-se em “motivos locais”:
As suas varinas, as suas «Lisboa», o nosso ar e a nossa luz bem fixados emprestam especial curiosidade à galeria que inaugura com real felicidade o estúdio do Secretariado. Merece ser vista esta coleção de trabalhos dum notável pintor, o qual, com lealdade, com amorosa descrição, com apaixonado e flagrante talento, reproduz os motivos caros à nossa sensibilidade. Pintura bem latina pela sua espiritualidade, não deixa de ser moderna, segura, séria e forte. E estes predicados só excecionalmente aparecem consagrados no mesmo artista.
[1] Anónimo, «Abre hoje a exposição de trabalhos do pintor Luiz Alsina», O Século, 9 de Outubro de 1943.
[2]Anónimo, «Abre hoje a exposição de trabalhos do pintor Luiz Alsina», O Século, 9 de Outubro de 1943.
[3]Anónimo, «Vida Artística. É hoje encerrada a exposição do pintor Luiz Alsina», O Século, 17 de Outubro de 1943, 6.
[4] Secretariado de Propaganda Nacional, ed., Luís Alsina: Exposição de (Lisboa: Império, 1943).
[5]Adriano de Gusmão, «Exposição de Luís Alsina», Seara Nova, 30 de Outubro de 1943, 2a edição, 158.
[6]Gusmão, 159.
[7]L. de B., «A exposição de Luiz Alsina, no estudio do S.P.N.», O Século, 10 de Outubro de 1943.
A exposição de Luis Alsina, "quadros a óleo e a guache, sobre motivos portugueses (...)”[1] realizou-se entre os dias 9[2] e 17[3] de Outubro de 1943, no estúdio do Secretariado de Propaganda Nacional, em Lisboa.
Catálogo (preços em escudos)[4]:
Maternidade (Gouache) (n.1, 3.000$); A estrada (Gouache) (n.2, 2.500$); Mulheres na fonte (Gouache) (n.3, 2.000$); Mulheres em frente ao mar (Óleo) (n.4, 2.000$); Varinas (Óleo) (n.5, 2.500$); Varina e criança (Gouache) (n.6 e n.7, 2.000$ cada); Mulher com bilha (Gouache) (n.8, 1.500$); Mulheres na fonte (Gouache) (n.9, 3.000$); Lisboa (Óleo) (n.10, 1.500$); Nu (Gouache) (n.11, n.13 e n.14, 2.000$ cada); Nu (Gouache) (n.12, 3.000$); Mulher com bilha (Goauche) (n.15, 1.800$); Varinas (Gouache) (n.16, 1.000$); Refugiada (Gouache) (n.17, 5.000$); Refugiada (Gouache) (n.18, 2.000$); Lisboa (Gouache) (n.19, 2.500$); Varina e barcos (Gouache) (n.20, 1.500$); Varina na escada (Óleo) (n.21, 2.500$); Mulheres e barcos (Gouache) (n.22, 1.500$); Varina (Gouache) (n.23, 2.000$); Mulheres na fonte (Gouache) (n.24, 1.000$); Mulheres e barcos (Gouache) (n.25, 2.000$); Ericeira (Gouache) (n.26, 1.500$); Lisboa (Gouache) (n.27, 2.000$); Varina (Gouache) (n.28, 800$); Mulheres com bilhas (Gouache) (n.29, 2.500$); Croquis aguarelados (n.30 a n.39, 500$).
No artigo de Adriano de Gusmão em Seara Nova, Luís Alsina é referido como “um espanhol há muito entre nós” que, com a sua exposição no S.P.N., trouxe a Portugal duas surpresas, sendo elas a sua “delicada e poética personalidade artística” e a “matéria da sua arte”. Adriano de Gusmão elogia o trabalho do pintor a guache, que representa a maioria dos seus trabalhos expostos, assim como as composições dos seus “pequenos” quadros:
Ama a côr, mas ama a subtileza da côr. (...) Luís Alsina parece um músico impressionista, estimando sonoridades delicadas e preciosas. Nos seus quadrinhos, a côr tem uma suave beleza, côr que, no entanto, não é a real. Lá não há côres locais nem as resultantes de efeitos luminosos da atmosfera. A côr é simplesmente a que o artista viu, idealizou, e gostou que entrasse na harmonia geral de composição. / Porque Luís Alsina tem um invulgar e muito agradável sentido de composição.[5]
No entanto, embora tenha um “sentido apurado de composição”, Gusmão não crê que Alsina “chegue à grande pintura decorativa” já que, “não tanto pela matéria como pelo estado geral do conteúdo dos trabalhos, tudo aquilo dá a ideia de se encontrar em esboço. A pintura exibida por Luís Alsina parece uma pintura provisória, estudos para futuros quadros provavelmente nunca realizáveis, porque o artista deve entregar-se todo nestes seus belos guachos”.
Para Gusmão, a preferência matérica do pintor pelo guache faz com que os poucos óleos que expõe “enganem” o observador, por se assemelharem aos guaches. No que toca ao conteúdo, Gusmão refere a preferência do artista pelas mulheres e barcos – “É este o seu tema predileto, além das suas modernas madonas”[6]. No quadro Mulheres e barcos (n.22), Gusmão vê “longínquos ecos das unidades cromáticas e harmoniosas dum Gauguin (...)”. Em Nu (n.12), elogia a “cadência da composição” que confere uma “bela oscilação às massas figuradas”, onde “o corpo da mulher, com bonita carnação, contrabalança o movimento das linhas do barco”.
No geral, Gusmão conclui:
Luís Alsina tem um desenho livre, bonito, expressivo, estrutural, moderno numa palavra. E tão pintor com a sua cor, o desenho, no entanto, tem, mais duma vez, um firme e estilizado traço semelhante ao dos escultores. Alsina dispõe pois de condições naturais dum agrado fácil, sem mentir a si próprio nem desvirtuar a sua arte. Basta-lhe ser ele mesmo, com as suas limitações, decerto, mas também com os atrativos duma deliciosa forma e fina sensibilidade. E a arte não vive só de figuras dominantes, pois o amador gosta até de encontrar obrazinhas deleitáveis, de pequenos e sinceros artistas, dignos de se incorporarem numa colecção ou galeria. E a galeria tanto pode ser particular como pública, no caso dum Museu...
L. de B., no artigo publicado nas páginas d’O Século[7], apresenta o pintor, “catalão, segundo cremos”, que estaria em Portugal há vários anos no momento da exposição. Relembra os seus leitores da “brilhante, valiosa, inteligentíssima colaboração artística na Exposição do Mundo Português”, onde o artista “deu, ali, provas sobejas do seu alto valor como artista a quem se pode entregar, afoitamente, uma decoração da mais transcendente responsabilidade”:
Sabe estudar, sabe buscar as fontes documentais, sabe desenhar, sabe pintar e conhece, técnica e profissionalmente, a fundo, o seu ofício. Não se trata dum destes artistas estrangeiros que o acaso dos naufrágios da guerra fez aportar as raias lusitanas e que mostram as suas habilidades mais ou menos interessantes. Não... Alsina é um grande artista em qualquer continente e em qualquer latitude. Abre, pois, com bons augúrios, esta «saison» o estúdio do Secretariado.
O crítico qualifica a exposição de Alsina como “uma galeria variada e interessante sob muitos aspetos”, que revela ao público português “uma finíssima e rica sensibilidade de pintor”. A pintura de Alsina, que L. de B. localiza nas vizinhanças dos “não-impressionistas”, é de “extraordinária fluência e frescura, de marcações esquemáticas muito seguras de desenho, (...). O sentido de composição, sempre, sem um desvio, marcando o alto sentido pictórico e plástico do artista, revela-se plenamente”. Sobre a sua cor, de “incomparável espontaneidade”, destacam-se “as manchas (...) repousantes e harmoniosas, pessoais, espirituosas, elegantes”. O ritmo e o “movimento” das suas composições, que lhes conferem “um certo «expressionismo» de atitudes”, contribuem para dar um “interesse muito fora do vulgar” aos quadros de Alsina. Porém, o maior interesse que o público lisboeta pode encontrar ao visitar esta exposição assenta na inspiração temática do artista, que mais uma vez soube “estudar”, baseando-se em “motivos locais”:
As suas varinas, as suas «Lisboa», o nosso ar e a nossa luz bem fixados emprestam especial curiosidade à galeria que inaugura com real felicidade o estúdio do Secretariado. Merece ser vista esta coleção de trabalhos dum notável pintor, o qual, com lealdade, com amorosa descrição, com apaixonado e flagrante talento, reproduz os motivos caros à nossa sensibilidade. Pintura bem latina pela sua espiritualidade, não deixa de ser moderna, segura, séria e forte. E estes predicados só excecionalmente aparecem consagrados no mesmo artista.
[1] Anónimo, «Abre hoje a exposição de trabalhos do pintor Luiz Alsina», O Século, 9 de Outubro de 1943.
[2]Anónimo, «Abre hoje a exposição de trabalhos do pintor Luiz Alsina», O Século, 9 de Outubro de 1943.
[3]Anónimo, «Vida Artística. É hoje encerrada a exposição do pintor Luiz Alsina», O Século, 17 de Outubro de 1943, 6.
[4] Secretariado de Propaganda Nacional, ed., Luís Alsina: Exposição de (Lisboa: Império, 1943).
[5]Adriano de Gusmão, «Exposição de Luís Alsina», Seara Nova, 30 de Outubro de 1943, 2a edição, 158.
[6]Gusmão, 159.
[7]L. de B., «A exposição de Luiz Alsina, no estudio do S.P.N.», O Século, 10 de Outubro de 1943.