Mariano Moré Cors (1899-1974)
1943
Maio
- Exposição individual no Secretariado de Propaganda Nacional, Lisboa
Entre os dias 15[1] e 27[2] de Maio de 1943, Mariano Moré Córs apresentou uma exposição no estúdio do S.P.N., sob os auspícios do S.P.N. e da embaixada espanhola[3], um evento que Adriano de Gusmão afirmou ser “uma das poucas interessantíssimas exposições individuais que aqui nos t(inha) sido dado ver nos últimos tempos”, elogiando a sua “sábia síntese entre o passado e o presente” [4]:
A pintura de Mariano Moré tem uma rica inspiração: a do povo seu conterrâneo; aspira a um nível alto como expressão artística, acusando estilo e animando a composição; une, portanto, o ensinamento oferecido pelos grandes mestres do passado com o particular sentimento expresso na arte dos modernos. Desta bem efectuada fusão resulta um notável e serêno equilíbrio nos seus quadros, proporcionando-nos um fino deleite espiritual, raro de encontrar em tanta produção contemporânea.
Catálogo da exposição[5]: Rincon de romeria (n.1), Retoños (n.2), En la fuente (n.3), Encuentro (n.4), Mozas en la fuente (n.5), Paisaje (n.6, n.7, n.8 e n.9), Mercado (n.10), Romeria (n.11), La pipa de sidra (n.12), Una Niña (n.13) - que é reproduzida nas páginas de Seara Nova[6] -, Manzanas (n.14), Verano (n.15), Mujeres del mar (n.16), Dia de fiesta (n.17), La panera (n.18), Los hijos del patrón (n.19), El Columpio (n.20), Casas frente al mar (n.21), Bodegón (n.22, n.23, n.24 e n.25), Primavera (n.26), Paisaje con figuras (n.27), La Barraca (n.28), Pescadoras (n.29) e Paisaje (n.30).
Adriano de Gusmão enaltece a aparente distância que o pintor manteve da arte vanguardista "de transportes" e de "frenesins":
Marcado fruto da época, contudo não se desorientou com a rosa dos ventos dos movimentos mais extremistas. (...) Não é uma arte de transportes nem de frenesins. É uma arte calma e densa como de quem sente a seriedade da vida e compreende não só a forma como o espírito da sua gente. E bem diríamos que outros artistas espanhóis nos visitassem, trazendo-nos emotivos pedaços de «su tierra», para, ao cabo, reconstruirmos a fisionomia e a alma desse grande Povo, do qual infelizmente sempre temos andado arredados, em particular na sua vida cultural e artística.[7]
N'O Século[8], surge de novo um elogio à modernidade contida do pintor espanhol:
O Secretariado da Propaganda Nacional na sua função de acolhimento aos artistas estrangeiros, instalou agora, no seu estúdio, trinta telas do pintor Mariano Moré Cors, jovem artista espanhol, que nos sugestiona desde já, o augúrio de uma prometedora carreira pelo brilho e relativo valor dos trabalhos expostos. Não sendo um clássico no rigor de processos tradicionais, também não é um modernista – na ousadia exagerada das suas conceções cromáticas ou dimensionistas (sic). «No meio reside a virtude», diz o provérbio. E assim acontece em Mariano Moré, que pinta com um grande sentido da nossa época, através de uma sinceridade que não contemporiza com o snobismo das escolas «à sensation».
E elogia-se o seu "regionalismo" - "É um pintor forte dos aspetos rústicos e campesinos. O seu pincel dá-nos ora a luz ténue das primaveras, ora a atmosfera mais densa dos estios no cenário das romarias asturianas, que ele reproduz com leveza e graça picturial (sic)" -, igualmente destacado nas páginas do Diário de Lisboa: “Pintor das Astúrias: da montanha e da rua; sobretudo da gente e do lugar. Raparigas de mãos dadas, tenteando, à cabeça, os baldes de água; a gaita de foles e o tamborileiro; danças ingénuas, sorrisos simples revelando uma intima contenção; dir-se-ia que estamos diante de painéis góticos, pintados agora. Por fundo, as macieiras da cidra, nas perspectivas suaves do vale; é, na verdade, todo o país céltico”[9].
[1] Anónimo, «Exposição de pintura de Mariano Moré», O Século, 14 de Maio de 1943.
[2]Anónimo, «Vida artística», O Século, 26 de Maio de 1943.
[3] Lafuente Ferrari, Mariano Moré (Gijón: Ayuntamiento, D.L., 1979).
[4]Adriano de Gusmão, «Mariano Moré Córs», Seara Nova, 29 de Maio de 1943, 123.
[5]Secretariado de Propaganda Nacional, ed., Exposição de Mariano Moré Córs (Lisboa: Editorial Império, 1943), 2.
[6] Gusmão, «Mariano Moré Córs», 123.
[7] Gusmão, «Mariano Moré Córs», 124.
[8] C.A., «A exposição dos quadros de Mariano Moré no estúdio da S.P.N.», O Século, 16 de Maio de 1943, 5.
[9] A.C., «Mariano Moré, na S.P.N.», Diário de Lisboa, 17 de Maio de 1943, 2a edição, 6.