Exposição individual de margot Valls Llopart no secretariado de propaganda nacional, lisboa (5-6.1942)
No dia 27 de maio de 1942[1], a pintora catalã Margot Valls Llopart inaugurou, no estúdio do Secretariado de Propaganda Nacional[2], uma exposição de 148 desenhos[3]. Ao ato inaugural presidiu António Eça de Queiroz (subdiretor do S.P.N.) e assistiram, entre outros, José Alvelos e Tavares de Almeida (chefe dos Serviços Centrais e chefe de Informação e Imprensa do S.P.N., respetivamente)[4].
Desenhos expostos (preços referidos no catálogo, em escudos)[5]:
O arcanjo Gabriel (n.1, 200$); Rôsto de mulher (n.2, n.3, n.4, n.5, 200$ cada); Pawlova (n.6, 200$); A cigana Ramona (n.7, 200$); Lili (n.8, 200$); Adolescência (n.9, 200$); A pintora (n.10, 300$); Papoilas (n.11, 200$); Gouâche (n.12, 250$); Interior (n.13, 200$); Sonolência (n.14, 200$); Banho de sol (n.15, 200$); Estudante (n.16, 150 $); Yu-ri-san (n.17, 200$); Mantilla espanhola (n.18, 350$); Meninas (n.19, n.20, n.21, 100$ cada); Paisagem (n.22, 150$); Inverno (n.23, 150$); O apóstolo (n.24, 250$); Amor filial (n.25, 200$); Ao despertar (n.26, 150$); Camélia (n.27, 200$); A inglezinha (n.28, 100$); Lagarterana (n.29, 100$); Natureza morta (n.30, 150$); A dama da luva (n.31, 200$); Ballet (n.32, 350$); Natureza morta (n.33, 250$); La alcaldesa (n.34, 250$); Aldeia de Castela (n.35, 250$); Dolorosa (n.36, 250$); Paisagem (n.37, 150$); Paulo (n.38, 200$); Virgínia (n.39, 200$); Abandono (n.40, 500$); Velha mendiga (n.41, 300$); Mulheres de Mallorca (n.42, 250$); Figura do século XVIII (n.43, 300$); Rosalia (n.44, 250$); Midinette (n.45, 300$); Árabe (n.46, 200$); Biscuit (n.47, 100$); A infanta Maria Margarida (n.48, 400$); Flores (n.49, n.50, 100$ cada); Boy (n.51, 100$); Flores (n.52, 200$); Arca (n.53, 300$); Parisienses (n.54, 300$); Madona (n.55, 600$); Rancor (n.56, 200$); A condessinha (n.57, 200$); Fin de siècle (Coleção de 12 desenhos) (n.58, 1000$); Bibelots (n.59, 1000$); Serenidade (n.60, 400$); Estampa bizantina (n.61, 1000$); Virgem aflita (n.62, 300$); Jovem senhora (n.63, 500$); Os pombos do parque (n.64, 400$); Cabeça de artista (n.65, 400$); Ar alegre (n.66, 500$); Figurinha de cristal (n.67, 200$); Árvores no Retiro de Madrid (n.68, n.69, 200$ cada); Olivais (n.70, 200$); Amendoeiras em flor (n.71, 400$); Santa Maria del Mar (Barcelona) (n.72, 300$); Gouâche (n.73, 400$); Ao vento (n.74, 600$); Aldeia de Santander (n.75, 150$); Chic (n.76, 300$); Ao jantar (n.77, 500$); Beethoven (n.78, 200$); No boudoir (n.79, 500$); Dama Isabelina (n.80, 250$); Venta Manchega (n.81, 200$); Bronze (n.82, 800$); A árvore velha (n.83, 300$); Paisagem (n.84, 300$); Lago na montanha (n.85, 800$); Inverno (n.86, 100$); Jovem loira (n.87, 300$); Carvão (n.88, 500$); Árabe (n.89, 500$); Pensativa (n.90, 1000$); Menino (n.91, 150$); Cabeça (n.92, 150$); Coquette (n.93, 250$); A pobrezinha (n.94, 400$); Estampa inglesa (n.95, 250$); Rapariga Indu (n.96, 1000$); Pose (n.97, 800$); Cabeça (n.98, 500$); Cabeça (n.99, 300$); Cabeça (n.100, 350$); Ao vento (n.101, 400$); A dama do sinal (n.102, 350$); Anjinhos (n.103, 200$); Mimi (n.104, 300$); Mulher (n.105, 500$); Génio (n.106, 200$); Lina (n.107, 100$); No espelho (n.108, 200$); Una noieta e La Masovera (n.109, 150$); Zingara (n.110, 400$); Cabeça (n.111, 300$); Luminoso (n.112, 150$); Júlia (n.113, 600$); A ceifeira (n.114, 300$); A refeição da velha (n.115, 150$); Juventude (n.116, 300$); Estampa (n.117, 250$); Mimi (n.118, 250$); No atelier (n.119, 200$); O pagem (n.120, 300$); O pirata (n.121, 100$); Sedução (n.122, 500$); Amelia (n.123, 150$); Morena (n.124, 150$); Virgem (n.125, 300$); Cabeça (n.126, 200$); Promessa (n.127, 350$); Menino (n.128, 350$); Espanto (n.129, 300$); Cabeça (n.130, 200$); O manequim (n.131, 125$); A florista (n.132, 125$); Gitano (n.133, 300$); Andalusa (n.134, 300$); Retrato da Sr.ª Pla de Bofill (n.135, sem valor); A menina da rosa (n.136, 200$); O doutor (n.137, 250$); Habanera (n.138, 200$); Cigana (n.139, 150$); Cigana (n.140, 400$); Mandarim (n.141, n.142, 200$ cada); Minha irmã (n.143, sem valor); Fantasia (n.144, 450$); Crianças (n.145, 300$); Mulher mundana (n.146, 300$); Cabeça (n.147, 150$); No foyer (n.148, 250$).
Os desenhos que Valls Llopart expôs foram elogiados pela crítica portuguesa que, no geral, sublinhou o seu carácter "curioso", "interessante" e "pessoal". Nas páginas do Diário de Lisboa, é referido o traço "sempre envolvente" da artista que "procurando, sobretudo, a impressão, caracteriza-se pela finura, a delicadeza e a sensibilidade". Destacam-se, entre a centena de desenhos mostrados, "a sua coleção de 12 desenhos, intitulada Fin de siecle, A Pavlova, Cigana Ramona, Rosto de mulher, bem como Serenidade e Madona" mas também "alguns retratos de mulheres, dum donaire elegante, (que) são dum belo tipo romanesco"[6].
N'O Século, encontramos o mesmo elogio às linhas de Valls Llopart, desta vez escrito por L. de B.[7], para quem a pintora "como que «tece» os seus desenhos de mil traços, dando «cor» sem cores, deixando entrever, entre as suas maravilhosas «teias de aranha», formas, volumes, entoações de claro-escuro, equilíbrios e composições, de forma surpreendente". Para o crítico, esta exposição de "uma interessante coleção de desenhos, a lápis e à pena, de técnica muito pessoal e, bastante deles, revelando altas qualidades de fatura", revela "um belo temperamento de artista, cheio de espiritualidade, e cujas obras de arrojado e pessoal estilo têm indiscutível mérito, interesse e encanto". Esse temperamento pessoal da artista faz com que todos os motivos das suas composições sejam conduzidos a uma "uniformidade plástica": "por vezes esses motivos são perfeitamente realizados dentro desse condicionismo (sic) de «maneira»". Sobre a coleção de 12 de desenhos intitulada Fin de siècle, "agora tanto na moda europeia", o crítico encontra a influência, embora inconsciente, do «federal style» americano e do «Georgian style» "não menos americano". Destaca ainda "de viva inspiração, de fresca e subtil harmonia, a sua coleção de cabeças, de temas de arquitetura e de paisagens, e até de ambientes de natureza morta".
No número único da revista Artes: Publicação da Galeria A. Molder, encontramos uma apresentação biográfica “de alguns artistas contemporâneos, nacionais e estrangeiros, que v(inham) enriquecendo com as suas obras as coleções da Galeria A. Molder”[8]. Alguns destes artistas eram “consagrados, (...) com uma vasta obra que os recomenda(va) e, outros, artistas das novas gerações que mais t(inham) contribuído para um maior prestígio da pintura, no nosso meio”. Margot Valls-Llopart surge nesta lista e é definida como uma “artista autodidata”[9] que “não pode classificar-se numa escola”: a sua formação académica começou aos onze anos, com aulas acerca das “noções mais elementares do desenho”; depois frequentou “um curso de escultura e outro de pintura, sem brilho algum e sem tirar deles qualquer proveito aparente”; por último, frequentou muito brevemente a Academia de Belas Artes de Madrid, “onde, ao quarto dia do curso, um professor a aconselhou a abandonar as aulas”: “Trabalhava só para si, sem preocupações de publicidade ou de triunfos. Isto lhe permitiu produzir sem influências estranhas. (...) Raros souberam descobrir o temperamento artístico que despontava através daqueles desenhos, (...)”. Por fim, é referida a sua vinda a Portugal em 1942, que resultou na exposição no Secretariado Nacional de Informação e cuja crítica, em geral, “foi-lhe altamente favorável”.
[1]A exposição terá encerrado perto do dia 7 de junho de 1942, último dia em que a exposição é referida nas páginas d'O Século. Anónimo, «O que há hoje», O Século, 7 de Junho de 1942, 4.
[2] Anónimo, «Uma exposição de trabalhos da desenhora Valls-Llopart», O Século, 27 de Maio de 1942.
[3] Secretariado de Propaganda Nacional, ed., Exposição de Valls Llopart (Lisboa: Editorial Império, 1942).
[4] Anónimo, «Desenhos de Valls Llopart, no Estúdio do S.P.N.», O Século, 28 de Maio de 1942.
[5]Secretariado de Propaganda Nacional, ed., Exposição de Valls Llopart (Lisboa: Editorial Império, 1942).
[6]Anónimo, «Exposição de Walls Llopart no estudio do S.P.N.», Diário de Lisboa, 27 de Maio de 1942, 7.
[7]L. de B., «Desenhos de Valls Llopart, no Estúdio do S.P.N.», O Século, 28 de Maio de 1942, 4.
[8] Galeria A. Molder, «Os artistas da Galeria A. Molder», Artes: Publicação da Galeria A. Molder, Janeiro de 1946, 21.
[9] Galeria A. Molder, «Os artistas da Galeria A. Molder», 27.