Exposição individual de antonio martín maqueda no Secretariado da propaganda nacional, lisboa (1942)
A 25 de Julho de 1942, foi inaugurada uma exposição do pintor sevilhano Antonio Martín Maqueda no estúdio do Secretariado de Propaganda Nacional[1], sobre motivos “taurinos”[2] e “andaluzes”[3]:
Com a presença dos srs. embaixador e embaixatriz de Espanha, inaugurou-se (...), na galeria do Secretariado de Propaganda Nacional, a exposição de arte do pintor sevilhano A. Martim Magueda (sic). Expõe-se cerca de oitenta trabalhos, óleos, aguarelas, guaches e desenhos, onde a vida de Sevilha – campo e cidade – se reflete expressivamente. Dois retratos, alguns nus e uma cabeça de cão bem apontada saem fora do programa andaluz. Magueda (sic) tem apontamentos à pena muito interessantes. O touro e o cavalo em liberdade no campo, esboços de fainas taurinas, de lances de capa, de atitudes de toureiros e de arranques da fera, aspetos da Semana Santa e de outras marés-altas de festas da sua terra, são os assuntos culminantes e dominadores desta exposição de arte castiça[4].
Catálogo[5] composto por:
- “Desenhos”: Retrato (n.1), Santa Catarina (n.2), Retratos (n.3 e n.4), Nus (n.5 a n.10), Cabeça de cão (n.11) e Semana Santa (seda) (n.12);
- “Desenhos à pena”: A vida do toiro (n.13 a n.32), Depois da derriba (n.33), Cavaleiros (n.34 a n.36), Carro andaluz (n.37), Duas confrarias (n.38 e n.39), Trípticos (n.40 e n.41), Praça de Toledo (n.42), Festa de Rocio em Sevilha (n.43), Retrato (n.44) e Passe por alto (n.45);
- “Aguarelas”: Confraria 1880 (n.46) e Virgem de Macarena (n.47);
- “Gouâches”: Toledo (n.48), Cartilha (n.49), Atirando a vara (n.50), Como te quero (n.51), Dois cavaleiros na praça (n.52 e n.53), No poço (n.54), Maio em Sevilha (n.55), Festa de toiros (n.56), No campo e Salamanca (n.57), Toiro fugido (n.58), A rosa (n.59) e Dois garrochistas (n.60 e n.61);
- “Óleos”: Ciumes (n.62), A duas mãos (n.63), A volta do rio (n.64), Muletazo por alto (n.65), Jardim de Alcazar (n.66), Debulha (n.67), Passe ajudando (n.68), Baile na festa do Rocio (Sevilha) (n.69), Por chicuelinas (n.70), Passe de peito (n.71), O matador e a sua quadrilha (n.72), Uma parada na festa de Rocio (Sevilha) (n.73), Toiros no campo (n.74, n.75 e n.76).
Nas páginas do Diário de Lisboa[6], a pintura de Martín Maqueda é louvada pelo seu vigor e intensidade, que se revelam não só na cor como no desenho:
A sua paleta, de cores violentas, bandeira de Espanha e tarde de corrida, é um mero reflexo da sua arte, prodigiosa, de desenhador. Havia Marín[7] o dos apontes deliciosos. Pois agora, há Maqueda – e talvez seja melhor. Menos delicado, estilizado, e, por isso mesmo mais realista, brutal e eloquente. (...) A sua retina fixa, admiravelmente, todos os lances, com uma perspicácia de pormenor, um movimento, um brio, uma fuga, na verdade, insuperáveis. (...) A mão do artista é como que uma labareda, na reconstituição dessas lutas apaixonantes da arena, instintiva, instantânea, fulgurante. A par disso, a vida do toiro na campina, manadas em fuga, tentas, recolhas de gado, em que Maqueda revela ser um animalista de extraordinário poder visual porque não lhe escapa o mais pequeno movimento, e nos dá, com vigor, toda a intensidade muscular dos seus modelos.
E os temas das obras, tauromáquicos, “peninsulares”, “andaluzes”:
mas há toiros, toiros de morte, com toda a ebriedade espetacular da festa, trajes de luzes, cavaleiros portugueses, primeiro plano dessa grande emoção peninsular, a servir de referência a uma espantosa coleção de desenhos à pena, que devem ter para os aficionados o mesmo valor das goyescas do Prado. Maqueda, no seu género, é inexcedível. (...) Na sua exuberância, Maqueda reproduziu alguns belos quadros da vida andaluz, como as procissões da Semana Santa, costumes dos fincas, e um ou outro episódio romântico, que devia encantar um Theofilo Gautier.
No dia 9 de Agosto de 1942, às 13horas, foi realizado um almoço de homenagem ao pintor, na Pastelaria Marques (Rua Garrett, Lisboa), organizado pelo Grupo Tauromáquico «Sector 1»[8], “pelo êxito que este artista alcançou com a sua exposição de quadros e «apuntes» taurinos, no Secretariado de Propaganda Nacional”[9]. O banquete foi presidido pelo Presidente da Sociedade Nacional de Belas Artes, Arnaldo Ressano Garcia, que “felicitou o homenageado pelo êxito da sua exposição de notáveis trabalhos no estúdio do S.P.N.”[10]. O vice-presidente do Sector 1, Carlos de Ornelas, "brindou também, em calorosos termos, por Martin Maqueda, que agradeceu muito sensibilizado. Durante o almoço, o distinto pintor fez um expressivo «croquis» com as figuras dos convivas.”
Leal de Zezere, no prefácio do catálogo da exposição de Martin Maqueda no S.N.I., em 1966[11], diz-nos que o pintor foi distinguido em Portugal com três medalhas de Terceiro Lugar (duas em desenho e uma em óleo) e uma Segunda Medalha, concedida num Salão da Sociedade Nacional de Belas-Artes, em guache. Segundo o mesmo, em 1966, vários museus portugueses tinham obras de Martín Maqueda no seu espólio: o autor refere o Museu Nacional de Soares dos Reis (Porto), o Museu Abade de Baçal (Bragança), o Museu Machado de Castro (Coimbra), o Museu Provincial de Elvas, o Governo Civil de Santarém, nas Câmaras Municipais da Covilhã e de Santo Tirso, no Museu de Tomar, no Governo Civil de Portalegre e nas sedes das Zonas de Turismo de Aveiro e de Portalegre.
Fernando Pamplona corrobora estes dados. No seu Dicionário de pintores e escultores portugueses ou que trabalharam em Portugal, Pamplona define Antonio Martín Maqueda como um “pintor figurativo espanhol contemporâneo, nascido em 1900, em Sevilha, que trabalhou em Portugal e aqui expôs as suas obras", que retrataram, sobretudo, "cenas de toiros e cavalos, (...) de maneira expressiva e vibrátil"[12]. Refere a presença de obras do artistas espanhol em vários museus portugueses, como o Museu Nacional de Arte Contemporânea (Lisboa), o Museu Nacional Soares dos Reis (Porto), o Museu do Abade de Baçal (Bragança), o Museu Machado de Castro (Coimbra), o Museu de Aveiro e os Museus Tauromáquicos das Praças de Lisboa e Póvoa de Varzim. Acrescenta ainda a informação de que Martín Maqueda obteve a Segunda Medalha em guache na Sociedade Nacional de Belas Artes, em 1957.
Tanto Pamplona como Leal de Zezere sublinham a colaboração de Martín Maqueda em vários jornais e revistas portugueses, como O Primeiro de Janeiro, do Porto, o Diário Popular e o Diário Ilustrado, de Lisboa. Em 1952, Martín Maqueda publicou, no âmbito da Coleção Invicta, o livro intitulado «Cambios» e recortes, com o objetivo de “levar aos novos aficionados o conhecimento das «sortes» (ou movimentos) que executaram os antigos toureiros, e também o das que eles agora vêm executar nas arenas”[13]. As páginas deste caderno tauromáquico contêm ilustrações do pintor, que ocupam cerca de quatro quintos da página, sendo o “carácter gráfico” da publicação algo “intencional”, pois pretende “fixar na memória, pela imagem, como se realizam as «sortes» nos seus três tempos, a par de ensinar a nomenclatura tauromáquica”. Assim, associadas a cada uma das ilustrações, encontramos uma legenda, no quinto inferior da página, que contém não só a nomenclatura como também a explicação dos movimentos em três tempos. Nesta publicação, é referida a morada de Martín Maqueda como sendo na Rua de Cedofeita, 193, Porto.
[1] Anónimo, «Exposição Martin Maqueda», Diário de Lisboa, 24 de julho de 1942.
[2] Anónimo, «Uma exposição de trabalhos do pintor espanhol Martín Maqueda», O Século, 25 de julho de 1942, 4.
[3] Anónimo, «Exposição de Martin Maqueda», Diário de Lisboa, 26 de Julho de 1942.
[4]M.S., «Exposição de A. Martim Magueda, no S.P.N.», O Século, 26 de Julho de 1942, 5.
[5]Secretariado de Propaganda Nacional, ed., Exposição de A. Martin Maqueda (Lisboa: Editorial Império, 1942).
[6]Anónimo, «Exposição Martin Maqueda», Diário de Lisboa, 27 de Julho de 1942, 2.
[7] Ricardo Marín y Llovet (1874-1955). Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, «Ricardo Marín y Llovet», Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia (blog), 2023, https://www.museoreinasofia.es/en/coleccion/autor/marin-llovet-ricardo.
[8]Anónimo, «Banquetes: De homenagem ao pintor sevilhano Martin Maqueda», O Século, 9 de Agosto de 1942.
[9]Anónimo, «Banquete de homenagem ao pintor sevilhano Martin Maqueda», O Século, 6 de Agosto de 1942, 4.
[10]Anónimo, «Banquete: O de homenagem ao pintor Martin Maqueda», O Século, 10 de Agosto de 1942, 4.
[11] Leal de Zezere, Martin Maqueda (Lisboa: S.N.I., 1966).
[12]Fernando de Pamplona, Dicionário de pintores e escultores portugueses ou que trabalharam em Portugal, 2a, vol. IV (Lisboa: Livraria Civilização, 1987), 57.
[13]A. Martín Maqueda, «Prefácio ao aficionado», em «Cambios» e recortes (Porto: Oficina Gráfica de «O Primeiro de Janeiro», 1952?).